Literatura de 70

A década traz vários tons de literatura desde o erotismo presente nos Cadernos Negros, lançado em 1978 que contou com 8 autores e inicialmente com pouco sucesso, sendo passado de mão em mão, podemos passar também pela obra literária de Caio Fernando Abreu, que forjou uma obra que retira do lixo o belo e se norteia pelos sabores das relações humanas. Além de contos escritos entre 1962 e 1977, a maioria reunida na seleta Ovelhas Negras (1995), Mesmo com a intimidade devassada pela correspondência, são em contos como O Mar Mais Longe que Eu Vejo ou Itinerário que o autor permite que se tornem evidentes seus subterrâneos. A exumação dos sonhos de paz e amor hippie, um de seus temas recorrentes, aparece com mais força nos retalhos do diário escrito durante sua estada londrina em 1974, resgatado com toques de ficção no conto Lixo e Purpurina. Fome, frio, humilhação dão os tons dos dias do exílio.
Literatura Infantil

A partir dos anos 70, a literatura infantil e juvenil inaugura um período extremamente fértil no Brasil. AS obras podem ser grupadas em tendências temático-estilísticas, construindo uma história do gênero que reflete o momento histórico social brasileiro e a situação do leitor por meio de um projeto estético ousado e criativo. Aparecem nomes que ainda hoje continuam a publicar, com sucesso, obras para crianças e jovens, entre eles: Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Lygia Bojunga Nunes, Ziraldo, João Carlos Marinho, entre outros, reatando as pontas com a tradição lobatina por novas vias que contemplam a crítica social, o humor, o suspense, a aventura da linguagem.
Poesia

A "poesia marginal" escrita nos anos 70, avaliada por muitos como o surto da biotônica vitalidade contra a ditadura militar instalada no País, seus poetas praticavam quase sempre um ritual mórbido em torno dos grandes mortos da contracultura - Jimi Hendrix e Janis Joplin, entre outros - e uma intensa (auto) flagelação, presente desde o confessado uso de drogas até o desprezo paradoxal pela cultura, sobretudo a literária.
A prática poética da geração 70 é um elogio ao anacronismo: a maioria dos poemas seja pela técnica, seja pelo tratamento dispensado ao tema, configura uma imitação detalhada da poesia que se escreveu nos primeiros anos do Modernismo brasileiro (1920 a 1930). Os poetas dos anos 70, as margens da poesia, reunindo 108 poemas de 29 escritores, entre eles Torquato Neto, Wally Salomão, Ana Cristina César, Bernardo Vilhena, Jorge Mautner, Paulo Leminski, Alice Ruiz, José Simão, Touchê e Regis Bonvicino, Chacal, Cacaso e Nicolas Behr, entre outros representantes da chamada poesia marginal.
Hoje, quase todos os poetas marginais já têm obra completa publicada - comparecendo com uma poesia extremamente datada. Embora vulgar, o argumento de que o "vazio cultural" dos anos 70 causou a aparição de uma poesia oca precisa ser considerado, ao menos por definir uma produção já envelhecida. A melhor contribuição daqueles poetas depositou-se nas letras de música popular e em roteiros para filmes ou programas de televisão, formas que escapam à pequenez das edições mimeografadas, embora caiam no circuito outrora execrado. Waly Salomão é exemplo de escritor que se adaptou bem às letras de música, bastante superior à sua prosa. De resto, sua formação cultural é bem mais sofisticada do que a de qualquer outro brincalhão do circo das letras.
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